Dia
desses fui convidado por um grupo de pessoas pertencentes a uma entidade que se
reúne regularmente para falar um pouco sobre a violência e a criminalidade. Num
primeiro momento relutei um pouco justamente por não me achar plenamente
qualificado para isso já que no grupo havia dentre outros profissionais da
segurança pública, membros do Ministério Público, profissionais da saúde,
Advogados empresários, comerciantes, engenheiros, dentre outros, e por isso
mesmo achava, inclusive, que haveria outras pessoas que também poderia
discorrer sobre o tema. O representante do grupo, no entanto, disse-me que por
eu ter exercido minha profissão de Oficial da Polícia Militar por trinta e
poucos anos, por ser Conselheiro do Conselho Nacional de Segurança Pública do
Ministério da Justiça, por ser professor na Academia da Polícia Militar e em
cursos de pós-graduação em Universidades, dentre outras atividades eles, o
grupo gostariam de ouvir minha manifestação acerca do tema. Ao final diante da
insistência, disse-lhe que atenderia o pedido formulado, contudo já adiantava
que não seria uma “palestra” mas sim uma conversa espontânea e franca com o
referido grupo objetivando trazer algumas questões para a reflexão de todos os
participantes para, quem sabe, uma futura ação deles visando a melhora da
segurança pública.
Na
ocasião, dentre outras questões que levantei e gostaria de dividir (nesta
postagem) com os leitores deste blog visando a reflexão de todos
disse-lhes:
OS MAIORES
ÓBICES E PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA
SEGURANÇA PÚBLICA BRASILEIRA
§ RECURSOS/INVESTIMENTOS
§ LEGISLAÇÃO
§ SISTEMA
PRISIONAL/PENITENCIÁRIO
§ MÍDIA
§ PSEUDOS
ESPECIALISTAS
§ MODISMO
§ VIGILÂNCIA
PRIVADA
§ USO POLÍTICO –
POLITIQUEIRO - DO TEMA
§ AS DROGAS
ILÍCITAS
Então
com a permissão dos leitores vou tentar discorrer o que proferi na ocasião
especificamente sobre isso.
Gostaria
contudo de esclarecer que vou discorrer sobre um dos temas em cada postagem ao
longo do tempo, iniciando pelo tema a seguir:
RECURSOS/INVESTIMENTOS:
Disse-lhes na
ocasião e aqui transcrevo:
O tripé da existência do Estado
(sentido amplo) é a Saúde, a Educação e a Segurança. A razão principal dele existir e arrecadar é
dar conta disso para que a sociedade (as pessoas) que dele façam parte tenham
esses três serviços básicos visando viver com qualidade.
Pois bem, a saúde e a educação (sem
entrar no mérito se funcionam adequadamente ou não) possuem constitucionalmente
percentual da arrecadação definido (impostos e outros), devendo
obrigatoriamente serem aplicados ao fim que se propõe, a segurança pública NÃO
possui percentual algum pré-definido. O que faz geralmente o gestor público
(governante), economizar quando o assunto é segurança pública inclusive sendo,
quase sempre, uma das primeiras áreas a serem contingenciadas em caso de
necessidade estatal. Cabe aqui um comentário: estamos falando em recurso
financeiro orçamentário para: salários, logística, saúde , custeio em geral, dentre
outros.
É bem verdade que existem tramitando no
Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados) uma série de iniciativas
através de Propostas de Emenda Constitucional – PEC ou até mesmo Projetos de
Lei – PL, contudo são na verdade “engodo” pois nota-se nitidamente que o executivo interfere com todo o seu poder no
sentido de não prosperarem tais iniciativas inviabilizando-as totalmente.
Sobre esse aspecto ainda se faz
necessário comentar que fazer segurança pública custa caro, muito caro, porém o
que se vê é as instituições e órgãos de segurança pública “se virando” com o
que tem e o resultado disso não poderia ser outro senão a caminhada para o caos
e o sofrimento da população.
Em outras palavras: investimentos e
manutenção da segurança pública depende da BOA VONTADE de quem está governando.
Como querer então que a violência e a
criminalidade diminua ou mesmo que haja um controle sobre ela se o Estado Brasileiro
(União e Estados) não proporcionam condições (recursos), nem mesmo mínimas,
para que as instituições e órgãos de segurança pública consigam desempenhar
suas cotidianas funções a contento sem a necessidade do improviso e do remendo.
Assim não dá, não é possível melhorar a
segurança dos cidadãos sem fortes investimentos nos profissionais e nas suas
condições de trabalho.
Se não for destinado de forma urgente
os recursos necessários para a segurança pública só por milagre ela melhorará
no Brasil.
Finalizando, chamo o leitor a reflexão
do que acima mencionei e que cada um de nós onde pudermos interferir façamos a
nossa parte “cutucando” os políticos e líderes da sociedade para que tenham a consciência
de que faltam os recursos financeiros adequados para que a segurança pública
funcione adequadamente e a violência e a criminalidade volte a permanecer sob
controle.
Conforme
mencionei nas próximas postagens tratarei de comentar sobre os demais assuntos,
ou seja: LEGISLAÇÃO; SISTEMA PRISIONAL/PENITENCIÁRIO; MÍDIA; PSEUDOS
ESPECIALISTAS; MODISMO; VIGILÂNCIA PRIVADA; USO POLÍTICO – POLITIQUEIRO - DO
TEMA; e, AS DROGAS ILÍCITAS.
Então
até lá e um abraço a todos.
MARLON
JORGE TEZA
Ponto inicial para a reflexão, que tenho a impresão será bem estimulante a todos... Mas sem entrar no mérito da questão educacional, mas dando minha opinião a fim de contribuir para a ampliação das reflexões, quando o sr. cita: "Como querer então que a violência e a criminalidade diminua ou mesmo que haja um controle sobre ela se o Estado Brasileiro (União e Estados) não proporcionam condições (recursos), nem mesmo mínimas, para que as instituições e órgãos de segurança pública consigam desempenhar suas cotidianas funções a contento sem a necessidade do improviso e do remendo"... Fiquei a pensar que com uma educação de qualidade, critica, reflexiva, quem sabe a própria população visualizaria o quanto é importante ter leis, mas ter também esferas administrativas que deem conta de executar as propostas legalizadas.
ResponderExcluirAbaços
Ana
.
O Coronel Marlon sempre contribui com seus comentários para reflexão acerca de temas de segurança pública, mas, desta vez, quero acrescentar algo. Hoje em dia, não se pode falar em paz social sem dividir, didaticamente o tema: instâncias formais e informais de controle social. Formais (as principais): Legislação, Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Poder Judiciário e Sistema Prisional. Informais (as principais): Família, Escola, Igreja e Comunidade.
ResponderExcluirAs instâncias formais estão cheias de limitações de toda ordem. As informais, que geram a ética social vêm apresentando sérios problemas na sua formação. Por esses motivos, as polícias no mundo todo estão buscando chamar a sociedade para o debate e para que ela própria passe a contribuir com a paz social. Em razão disso, foram criados programas tais como: PROERD e Polícia Comunitária.
Certa feita eu estava fazendo uma palestra sobre segurança pública e perguntei: Quem é o maior responsável pela paz social? Uma senhora apontou para mim, que estava fardado, armado e equipado. Eu respondi apontando para a platéia, que os maiores responsáveis eram eles e questionei: Onde estão os filhos de vocês a estas horas (21:30h). Muitos baixaram a cabeça em sinal de aceitação. Portanto, os governos não podem nem devem se eximir das responsabilidades legais e sociais. Entretanto, o debate vai muito além das fronteiras das instâncias formais de controle social.
Mário Cézar Simas
Coronel RR PMSC