Inicialmente gostaria de desejar a todos os leitores do meu blog um feliz e próspero ano de 2012.
Para começar o ano vou fazer uma pequena análise sobre a tal “VIRADA” (2011 – 2012), ou seja, a noite de 31 de dezembro e madrugada de 1° de janeiro, mais precisamente sobre a quantidade de pessoas que participaram dessas festas públicas nas principais cidades e destinos turísticos do Brasil. O tema que agora será tratado está intimamente ligado a segurança pública (ordem pública) urbana, bem por isso achei interessante realizar alguns comentários.
Fortaleza, Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Balneário Camboriú aliadas a outras cidades pelo Brasil afora, divulgaram número de pessoas participantes das respectivas festas de réveillon e por certo se tudo somado ultrapassariam e muito o total da população brasileira.
A intenção desta postagem é colocar em dúvida os números divulgados por cada cidade, pois, o fizeram e fazem sem observar critérios mínimos de cálculo, levando em conta os espaços públicos e sua correspondência com o número de pessoas presentes.
O “chute” acaba quase sempre imperando e não deve ser assim.
Alguns disseram que em tal local existiam um milhão de pessoas, outro dois milhões, outras quinhentas mil e por aí vai. Será verdade? Afinal quem divulgou os números. Tinha conhecimento real sobre como fazê-lo. Com que interesse divulgam números fora da realidade e acima da real capacidade do espaço. Por certo esses “divulgadores” leigos, geralmente ligados a administração das cidades ou dos eventos (se privados) tem o interesse de divulgar a grandeza do evento no intuito de dizer que: “o meu réveillon foi melhor que o teu” para, no futuro, em outros eventos angariar maior público e, em especial, atenção da mídia.
Mas o que isso tudo tem com a segurança pública (ordem pública)? Na verdade está intimamente ligada a ela pois, a programação que os órgãos e instituições de segurança pública realizam (pelo menos deveria) no planejamento leva em conta principalmente o número de participantes no evento(previsões e números de eventos similares anteriores) e aí poderão advirem sérios problemas quanto o dimensionamento do evento.
Será que os “divulgadores” dos números tem ideia do que é um milhão de pessoas ou quinhentas mil pessoas? Penso que a maioria não tem a mínima noção disso, pelo menos é o que demonstram.
Citarei como exemplo a bela cidade/praia de Balneário Camboriú-SC, cidade onde resido, por isso será a referência.
Várias notícias, conforme “links” abaixo, dão conta de que o público foi estimado em seiscentas mil pessoas, outras de oitocentas mil pessoas, algumas chegando a um milhão de pessoas participantes no réveillon de Balneário Camboriú-SC. Realmente muita gente participou do evento, no entanto, com certeza o número não chegou nem de perto ao anunciado e tentarei demonstrar isso.
Observando o google Earth, latitude: 26°59'13.47"S – longitude: 48°37'56.16"O – notamos alguns dados interessantes e necessário para calcularmos em números aproximados, mas reais, a quantidade de público possível durante o evento réveillon na praia central de Balneário Camboriú-SC, como a seguir:
- O total em comprimento a praia referida é de 5.500 metros, possuindo em média 22 metros de areia aproveitável mais cerca de 08 metros de via (rua) se esta estiver interditada ao trânsito de veículos, totalizando assim cerca de 30 metros.
- As fotos (conforme link: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default.jspx?uf=2&local=18&action=galeriaPlayer&groupid=422&galeriaid=30052§ion=Fotos ) demostram que somente defronte ao palco na praça central da praia estava com bastante público e conforme se distanciava da mesma o público tornava-se bastante escasso o que é compreensível pois alí havia show ao vivo com bandas.
- Em um metro quadrado cabem em locais bem aglomerados e geralmente em ambientes fechados 04 a 05 (no máximo) pessoas em média. Já em ambientes abertos com muita aglomeração (como é o caso em estudo) cabem em média de 03 a 04 pessoas. Por outro lado, quanto mais disperso o público o espaço médio para as pessoas vai aumentando e, consequentemente, o espaço para cada pessoa, reduzindo assim a densidade por metro quadrado (em caso de dúvida o leitor poderá realizar um teste e constatar o que aqui se está afirmando).
- Então vamos aos cálculos:
- Palco central: 80 metros à direita mais 80 metros à esquerda, totalizando 160 metros de comprimento, multiplicados por 35 metros de largura (considerando o uso 05 metros de parte do mar), igual a 5.600 quadrados. Se considerarmos 04 pessoas por metro quadrado totalizamos 22.400 pessoas.
- Imediações ao palco central: Mais 80 metros à direita e 80 metros a esquerda, totalizando mais 160 metros de comprimento, multiplicados por 30 metros de largura, igual a 4.800 quadrados. Se considerarmos que este ambiente já possui menos pessoas, ou seja, em média 03 pessoas por metro quadrado, totalizamos mais 14.400 pessoas.
- Restaram 5.240 metros de extensão de praia com 22 metros de largura já que a via estava liberada ao trânsito de veículos. Teremos como consequência 111.760 metros quadrados. Então devido a circulação tranquila e espaçosa das pessoas consideraremos 01 pessoas a cada 03 metros quadrados, atingimos um total de mais 37.253 pessoas.
- Cálculo final de pessoas possíveis no réveillon da praia de Balneário Camboriú-SC. 22.400 + 14.400 + 37.253 = 74.053 pessoas (podendo variar algumas centenas para mais ou para menos).
Vejam que os números apresentados após a realização de um cálculo racional diferem e muito daqueles apresentados e divulgados pela mídia em geral. É necessário, porém, salientar que os números finais (cerca de setenta e cinco mil pessoas somente na orla da praia) é expressivo pois representa quase toda a população fixa do município de Balneário Camboriú-SC (IBG-106.220 habitantes).
Não posso afirmar que no Brasil todos os casos tenham a mesma disparidade, no entanto na maioria dos casos há sim exagero na divulgação do número de pessoas participantes dos eventos em tela.
O caso em estudo demonstra que no afã de divulgar as cidades os gestores e a própria população acaba por superestimar os números sem realizar racionalmente os cálculos necessários, até porque, não haveria infraestrutura que funcionasse nem mesmo precariamente com tanta gente junta nos centros urbanos, mesmo que por algumas horas.
A pretensão desta postagem é chamar atenção de todos para a observância quando da divulgação de números em certas ocasiões, pois estes se não divulgados corretamente poderão trazer uma séria de consequências inclusive para a segurança pública (ordem pública).
Se houverem contestações referentes aos números apresentados, como sempre, estamos à disposição para correção dos cálculos sem constrangimento.
Minha pretensão é somente chamar a atenção dos leitores para que prestem atenção a respeito e não serem iludidos com números totalmente fora da realidade.
Um abraço a todos, renovando votos de um feliz 2012.
MARLON JORGE TEZA
Coronel, parabéns pela análise. Certamente que estas falsas previsões e constatações de público em eventos afetam a segurança pública.
ResponderExcluirInfelizmente a vontade de parecer grande, ou seja, uma megalomania desenfreada faz com que esses absurdos ocorram.
Se não quiserem fazer um cálculo desses, que usem uma grade padrão de contagem de aglomeração urbana, disponível na internet e usada pela PMESP.
ABraços
Carpes
É verdade, Coronel. Parabéns pela análise.
ResponderExcluirAbração!
Sinval
Duvido que a imprensa divulgue assim estes cálculos. J.SCHMIDT
ResponderExcluirParabéns pelo estudo e pela postagem. Aqui em Garopaba onde resido a 5 anos também são divulgados dados sem o mínimo de estudo.
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